quarta-feira, 4 de novembro de 2015

OS DONS ESPIRITUAIS

1 Coríntios 12:1-11

O apóstolo Paulo já havia discorrido a respeito de problemas concernentes aos sentimentos e ao corpo, a atitudes manifestadas em atos e realizações físicas. Agora precisava falar a respeito de graves problemas no âmbito espiritual e ele inicia dizendo literalmente o seguinte: “A respeito do que é espiritual...”, ou “A respeito da espiritualidade...”; ou “A respeito do que concerne ao espírito...” A expressão “dons” é enxerto de tradutores e não existe na sua frase inicial. Ele estava preocupado com comportamentos e pensamentos que giravam em torno do que é imaterial, do que envolve tanto o espírito do ser humano, quanto o Espírito de Deus. E naquela igreja havia muita confusão a respeito, pelo fato de a espiritualidade deles ter, ainda, como padrão, a sua antiga religiosidade gentílica (v. 2).
Agora, convertidos, novas criaturas em Cristo Jesus, precisavam conhecer o que é espiritual em conformidade com a realidade do Espírito Santo, sua natureza, propósitos e atos vindos realmente de Deus. E nós, também influenciados por ensinamentos e comportamentos humanos, oriundos de religiosidades pagãs ou de incredulidades quanto à Palavra de Deus escrita, precisamos conhecer a respeito do Espírito Santo e suas manifestações na igreja. Não podemos ser ignorantes como os da igreja de Corinto eram.
I. O ESPÍRITO SANTO LEVA À GLORIFICAÇÃO DE JESUS – v. 3
O conhecimento principal para a compreensão das manifestações do Espírito Santo é o de que Ele sempre leva o ser humano à glorificação da pessoa do Senhor Jesus (ver também João 16:14). Nunca leva à glorificação da própria pessoa, nem do próprio Espírito Santo, porém à pessoa do Salvador, do Senhor, do Filho de Deus.
Anátema significa algo ou alguém que é dedicado à destruição, ao sofrimento. Daí se dizer, também, que anátema significa maldito. Mesmo que seja em sentimento manifestado em palavras, dedicar algo ou alguém à destruição é manifestar desprezo. Então, dizer Jesus é anátema é manifestar desprezo por ele. Ao contrário, referir-se a Jesus como Senhor, é glorificá-lo, é exaltá-lo como Rei dos reis, Senhor dos senhores.
Para não sermos guiados por falsos ensinamentos precisamos, portanto, antes de tudo, observar se quem nos tenta ensinar, ou nos incitar, ou nos conduzir, despreza ou exalta a pessoa do Senhor Jesus. Se exaltar-se a si próprio, ou se exaltar a pessoa do Espírito Santo acima de Jesus, é falso profeta, falso mestre, falso pastor. Quanto a ensinamento, é falso, enganoso.
II. A DIVERSIDADE DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO E A UNIDADE DE DEUS, JESUS CRISTO E ESPÍRITO SANTO – v. 4-11
Pelo contexto da carta percebemos que havia irmãos na igreja de Corinto que se exercitavam na prática de algumas manifestações espirituais apenas e, talvez, as que mais lhes eram convenientes para a aquisição e manutenção de posições de destaque na igreja. O destaque ia para o fenômeno da glossolalia (produção de ruídos estranhos, ininteligíveis com a boca) e para a adivinhação (que confundiam com a profecia). Mas o apóstolo Paulo, antes de discorrer profundamente a respeito desses fenômenos, se preocupa em ensinar que existem diversos outros dons do Espírito Santo, que visam a prestação de serviços ao Senhor Jesus e que todos são realizações dedicadas a Deus. Ou seja, os dons são diversos, provém do Espírito Santo conforme a vontade dEle porque distribui a cada um como quer (v. 11) e nunca são para o indivíduo, para seu benefício próprio (nem mesmo para a própria edificação) nem a distribuição e recebimento de dons é conforme a vontade de quem os busca.
Para compreendermos melhor a respeito dos dons do Espírito Santo precisamos analisar o seguinte:
1. O que é dom do Espírito Santo
A expressão grega utilizada Pelo apóstolo Paulo e traduzida por “dom” é “karismáton”, que tem como principal significado “favores não merecidos, porém gratuitamente concedidos.” Compreendemos, assim, que o apóstolo Paulo não está falando nada a respeito de recebimento do Espírito Santo, mas de capacitação concedida pelo Espírito Santo para o serviço cristão. A expressão é traduzida por dom porque não temos na língua portuguesa uma expressão que, por si só, consiga dar o mesmo sentido que a palavra grega. E, também, porque são capacitações que vêm aos crentes em Cristo como dádivas divinas, sem que o crente tenha que merecê-las.
2. Os dons são individuais. Os dons são manifestados e o apóstolo Paulo afirmou que a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil e, compreendemos, ao serviço cristão. Observe-se com atenção que manifestação é ação e que não há, portanto, dom sem manifestação. Isto seria inútil.
3. Quais capacitações foram referidas pelo apóstolo Paulo.  Os dons do Espírito Santo ensinados à igreja de Corinto foram os seguintes:
a) Palavra de sabedoria – Capacidade de se expressar com sabedoria, com prudência, com inteligência.
b) Palavra de conhecimento – Capacidade de transmitir o conhecimento verdadeiro, de ensinar o que é correto, de doutrinar.
c) Fé – convicção da verdade (pistis). Lembramos que o apóstolo Paulo está falando de manifestação de dons. Está, portanto, se referindo à fé verdadeira, com atos e atitudes que manifestam a convicção da verdade. Lembremo-nos de que os atos, as realizações (ergon) de fé são as manifestações de que a fé é real, verdadeiramente existente (Tiago 2:18).
d) Os meios de cura – A palavra utilizada é iama, que significa exatamente isso: “um meio de cura, remédio, medicamento”. O apóstolo Paulo não estava se referindo a curas milagrosas, porém aos meios de cura. Se quisesse se referir a cura teria utilizado a palavra iaomai, que é o verbo curar, sarar. Diferentemente do que muitos pensam e defendem hoje, o apóstolo Paulo estava dizendo que, na igreja, o Espírito Santo concedia a crentes meios, recursos, medicamentos, para curar.
e) Realizações de poder – A palavra que é traduzida por milagres é dunamis que significa literalmente poder, força, capacidade. A palavra que foi traduzida por operações é energema, que significa aquilo que foi realizado, resultado de uma operação. Por isso traduzimos por “realizações de poder”. Não é possibilidade de realizações, porém a realização concluída e de algo poderoso. Não significa necessariamente que sejam milagres, pois pode ser qualquer realização poderosa para o Senhor Jesus Cristo. Por exemplo, a realização, a conclusão da operação da evangelização levada a efeito pelo apóstolo Pedro no dia de Pentecostes, quando se converteram e foram agregadas à igreja quase três mil almas, foi uma concessão, uma dádiva do Espírito Santo. Isto significa que poderosas campanhas evangelísticas realizadas pelas igrejas e conduzidas por alguns, é uma dádiva do Espírito Santo.
f) Profecia – Confundido por muitos com adivinhações, inclusive de coisas particulares na vida de pessoas, significa, no entanto, conforme Strong, James: Léxico Hebraico, Aramaico E Grego De Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002; 2005, “discurso que emana da inspiração divina e que declara os propósitos de Deus, seja pela reprovação ou admoestação do iníquo, ou para o conforto do aflito, ou para revelar coisas escondidas; esp. pelo prenunciar do eventos futuros na predição de eventos relacionados com o reino de Cristo e seu iminente triunfo, junto com as consolações e admoestações que pertence a ela...” É, portanto, o dom de anunciar, pregar, a Palavra de Deus. Uma pregação de acordo com a Palavra de Deus, com as Escrituras Sagradas, a proclamação do evangelho de Jesus Cristo como consolação e admoestação do juízo de Deus sobre a humanidade, é manifestação do dom de profecia.
g) Discernimento de espíritos – seja no sentido do ânimo ou essência do que move o ser humano (falso ou verdadeiro), seja no sentido de espiritos malignos que se disfarçam no seio da igreja, através de pessoas e seus atos.
h) Línguas de outros povos, raças, tribos ou nações – Ao contrário do que consta da maioria das nossas traduções, o apóstolo Paulo não se referiu nenhuma vez a linguas estranhas ou a variedades de línguas. Isso é interpretação pessoal de tradudores que mudaram o sentido, talvez desejando facilitar a compreensão e, ao contrário, dando origem à grande confusão doutrinária e comportamental que existe hoje no meio evangélico difundido pelos doutrinadores do pentecostalismo. No grego, no versículo 10, encontramos as expressões genos, que significa família, raça, tribo, nação; e glossa que tanto pode significar língua no sentido do órgão da fala, quanto língua, no sentido de idioma. A referência do apóstolo Paulo é específica à manifestação do dom de línguas de outras nações. Pessoas que conseguem aprender com facilidade línguas de outras nações e as utilizam no que é últil para o reino de Deus, são capacitadas pelo Espírito Santo.
i. Interpretação de línguas estrangeiras – Conforme significado da palavra hermenéia, do que foi dito de alguma maneira obscurecida a outras pessoas. É o dom de interpretar, esclarecer e anunciar de maneira perfeitamente compreensível. Não é um dom de interpretação de línguas estranhas, isso não existe na Bíbli, mas o dom de interpretação de línguas de outras nações.
Concluindo
 a) Dons são dádivas não merecidas, portanto não podem ser conquistados através de práticas religiosas; b) Dons são invisíveis, o que é visível são as manifestações dos dons; c) Dons de profecia, de cura, de línguas e de interpretação não são o que os pentecostais ensinam, porém o que está escrito no texto e foi explicado; os dons são uma realidade para o que for útil na igreja de Cristo e não para o benefício de quem os recebe.