quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A EXPERIÊNCIA COM DEUS E O EXERCÍCIO DOS DONS NA UNIDADE DA IGREJA

Romanos 12:1-8

Depois de exortar os crentes da Igreja de Roma, tanto judeus quanto gentios, ensinando-lhes a respeito de práticas e conhecimentos coerentes com o cristianismo verdadeiro, divergentes entre os dois grupos, o apóstolo Paulo passou a discorrer a respeito da visão da igreja como sendo um só corpo em Cristo e da prática dos dons do Espírito Santo para o bom funcionamento do corpo.

É sobre estes dons e a prática deles que estaremos estudando com a finalidade de estarmos sempre nos colocando como uma igreja verdadeira e eficiente para a eficácia da nossa existência.

1. ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA QUE A IGREJA EXPERIMENTE A VONTADE DE DEUS – v. 1,2

A vontade de Deus é soberana e imutável. É sempre boa, agradável e perfeita no sentido de ser completa, mas somente para aqueles que:

1. Se apresentam a Ele. A palavra grega utilizada pelo apóstolo Paulo é paristemi, composta de para que significa por, e histemi que significa permanecer de pé e era utilizada também para a maneira que pessoas deveriam se colocar diante de autoridades. Ou seja, o apóstolo estava rogando aos crentes que estivessem voluntariamente se colocando firmes e reverentemente diante de Deus com propósito de permanência e com reconhecimento da autoridade suprema dEle. Como escrevia para crentes que se originavam do paganismo ou do judaísmo, mostra que este posicionamento voluntário diante de Deus era o sacrifício requerido por ele e não sacrifícios manifestados através de quaisquer atitudes religiosas. Também estava ensinando que esta é a adoração (utilizou a expressão grega latreia) racional, lógica, que concorda com a razão.

2. Se transformam pela renovação do entendimento. O crente em Cristo é uma nova criatura, as coisas velhas passaram e vive uma nova vida. No entanto ele continua sendo o mesmo ser, regenerado mas o mesmo ser. Traz uma carga de entendimentos, de costumes, de ensinamentos que são conforme o mundo, a sociedade sem Cristo. Precisa se transformar, se metamorfosear. Por isso precisa se exercitar em renovar o seu entendimento, a sua mente, a sua compreensão das coisas. Precisa se exercitar em deixar que a mente de Cristo (1Coríntios 2:16) o conduza na compreensão das Escrituras, nos ensinamentos do próprio Senhor Jesus. No entanto isto só acontecerá se o crente não se conformar com os padrões deste mundo . Não se conformar com a forma, a aparência, o comportamento, o discurso, as ações, a forma de vida, etc. (suschematizo). Ou seja, o crente precisa ser inconformado com os padrões deste mundo para que possa renovar o seu entendimento e renovando o seu entendimento estar perfeitamente diante de Deus.

2. ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA A PERFEITA UTILIZAÇÃO DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO – v. 3-8

Existem alguns elementos que são essenciais para que a igreja de Cristo funcione perfeitamente de acordo com as suas características e objetivos.

1. A convicção de que fazemos parte de um corpo. O apóstolo fala diretamente a respeito da necessidade de reconhecimento de que somos muitos membros mas somos um só corpo em Cristo e que somos membros uns dos outros (v. 5). Mas os membros são elementos operacionais, que trabalham, que exercem funções para que todo o corpo cumpra a sua função de agir como um ser. Na igreja as funções não são aleatórias, escolhidas pelos próprios membros, assim como em um corpo não é. Um braço não é braço porque desejou ser. Por isso devemos reconhecer que fazemos parte de um corpo e que devemos cumprir as funções que Cristo nos determinou ao colocar-nos como parte integrante do seu corpo.

2. O abandono da soberba. Quando o apóstolo Paulo escreveu “cada um dentre vós não saiba mais do que convém saber” utilizou a palavra phroneo que significa ter uma opinião de si mesmo. Há uma medida de fé que Deus reparte a cada um (v. 3) e não devemos nos arvorar muito sábios, nem devemos confiar na nossa própria fé como achamos que a temos. Também não devemos nos sentir muito capacitados mas somente dependentes de Cristo, da capacitação que vem dele.

3. O exercício dos dons como eles são. É Deus quem concede os dons e é Deus quem define os dons. A igreja de Cristo se transforma em um corpo desorganizado, sem coordenação e sem possibilidade de alcançar seus objetivos quando os dons não são exercitados corretamente. O apóstolo Paulo relaciona sete dons e define o seu exercício em poucas palavras.

a) Profecia – de profeteia no grego. Significa “discurso que emana da inspiração divina e que declara os propósitos de Deus.” O que tem o dom de profecia anuncia a Palavra de Deus e é inspirado por Deus. Não é um adivinhador, nem um prognosticador, mas alguém que recebe a Palavra de Deus e tem a incumbência de transmiti-la a quem Ele deseja que ouça. O apóstolo Paulo ensina que quem tem este dom tem uma medida, tem um limite. Para a palavra que foi traduzida por “medida”, o apóstolo utilizou a palavra analogia, composta de ana que significa entre limites, dentro de, e logia, derivada de logos que na Bíblia é a Palavra de Deus. Ou seja, a profecia não pode ser conforme a palavra do próprio pregador, nem pode ser conforme a palavra de homens, mas tem que estar limitada dentro da Palavra de Deus. Jesus definiu que as Escrituras são a Palavra de Deus (João 10:35) e declarou que a Palavra de Deus é a verdade.

b) Diaconia – Enquanto profecia é pregação, é anunciação, diaconia é serviço, é prática. É um dom definido pela própria palavra que significa “colocar comida na mesa”. Claro que a expressão foi ampliada nas igrejas de Cristo e os diáconos foram se ocupando do socorro aos necessitados não somente de alimentos, mas de vestimentas, de medicamentos etc. O apóstolo Paulo diz que se o dom é o diaconato, que não haja desvirtuamento e que seja exatamente o seu exercício. Nossas versões substituíram a expressão por “ministrar”, mas ficou uma expressão vaga, sem sentido. Uma igreja de Cristo tem muito mais possibilidade de agir como um corpo quando os que têm este dom o exercem dentro de suas características.

c) Ensino – Tradução da palavra didasko que significa principalmente “conversar com outros a fim de instruir-los, pronunciar discursos didáticos”. Ser um professor. Este dom do Espírito Santo não tem nada a ver com funções seculares. Nem sempre um bom professor na vida secular é um bom professor na igreja. É um dom essencial para o crescimento do corpo de Cristo, para aqueles que não se conformam com os padrões do mundo e que desejam se transformar pela renovação do entendimento.

d) Consolação – Preferimos definir este dom como sendo o de conforto ao invés de exortação porque perdeu-se o significado real da palavra e pensa-se atualmente que exortar é falar com rispidez. Mas a palavra utilizada pelo apóstolo Paulo é parakaleo que significa estar junto confortando, consolando, encorajando e fortalecendo pela consolação. Ninguém deve sentir-se melhor ou maior que outro porque tem este dom. Deve apenas exercê-lo de maneira correta e com dedicação. O que Deus pode fazer através de irmãos que têm este dom é algo que não se pode descrever. Quantos estavam enfraquecendo e foram fortalecidos pela palavra de alguém que tem o dom de consolação. Quantos estavam entristecidos e encontraram a alegria pela companhia e pelas palavras de um irmão que agiu conforme o dom que Deus lhe concedeu.

e) Repartir – A palavra que o apóstolo Paulo utilizou é metadidomi que significa compartilhar com, repartir. Talvez seja um dos dons mais difíceis de ser exercitado, principalmente nestes tempos em que o ser humano se torna cada vez mais individualista. Mas precisa ser exercitado com liberalidade por quem o tem. Exercitado sem medo porque se Deus concede o dom, também concede a possibilidade de ser exercido. Quem reparte terá sempre o que repartir.

f) Presidir – A palavra é proistemi que, conforme dicionário grego, significa “estar à frente, estar sobre, superintender, ser um protetor ou guardião, cuidar, dar atenção a.” Na realidade é tudo o que um presbítero deve ser: Um bispo e pastor. O apóstolo Paulo ensina que quem tem este dom deve exerce-lo empenho e muita seriedade (spoude). Presidir, superintender, proteger o corpo de Cristo é algo que depende de muita dedicação e é algo muito sério. Mas, quem tem este dom deve sempre se lembrar que é capacitado pelo Espírito Santo e deve deixa-lo agir em sua vida.

g) Misericórdia – No grego eleeo que significa ter misericórdia de, ajudar alguém aflito ou que busca auxílio, levar ajuda ao miserável. Um dom difícil de ser exercitado, mas que deve ser vivido com alegria e prontidão em servir (hilarotes), conforme os ensinamentos do apóstolo Paulo.

CONCLUSÃO

1. Só experimenta a agradável vontade de Deus em sua vida aquele que se apresenta diante dEle, esvaziando-se de si mesmo e dos conceitos do mundo. É necessário extrapolar os limites estabelecidos pelo mundo e se enquadrar nos limites estabelecidos por Deus. É uma questão de opção.

2. A compreensão do crente precisa ser diferente da compreensão do mundo. O mundo jaz no maligno, o crente deve estar diante de Deus e sendo conduzido por Ele. Nunca haverá coerência entre Deus e o mundo.

3. Quem deseja participar positivamente do corpo de Cristo deve deixar a soberba de lado e deve aceitar com alegria o exercício do dom ou dos dons que Deus lhe concede. Se cada um desempenhar o dom concedido pelo Espírito Santo, a igreja será um corpo sadio, coerente e organizado conforme os desejos de Deus.

4. Cada dom do Espírito Santo é específico e ao crente só cabe aceita-lo ou não. Em aceitando, precisa desempenha-lo da melhor maneira possível.