quinta-feira, 19 de março de 2015

A SÃ DOUTRINA

Baseado em 1Timóteo 1

Um dos grandes males do nosso século é uma aversão a um ensinamento sadio, a uma regra de vida sadia, baseada nas Escrituras, a Bíblia. Não é uma aversão somente de pessoas que são de fora do cristianismo, porém alcança fortemente o nosso meio, até mesmo os evangélicos que deveriam caracterizar-se por uma vida cristã baseada somente no evangelho de Jesus Cristo. Por isso, quando utilizamos a expressões doutrina, doutrinamento e sã doutrina, há uma reação de repúdio e aversão, muitas vezes zombeteiras ou verbalmente violentas.
Creio que para tais pessoas não há esperança pois rejeitando a sã doutrina, rejeitam, também, os ensinamentos bíblicos e para conhecermos e nos mantermos na sã doutrina necessitamos exatamente do conhecimento bíblico e aceitação dos seus ensinamentos.
Pouco tempo depois de Jesus Cristo ter estabelecido o seu evangelho no mundo, cerca de 30 anos depois de sua morte e ressurreição, este problema já existia. Talvez sem a amplitude de hoje, já que o mal se propaga rapidamente através dos mais variados meios de comunicação dos quais dispomos hoje, porém já existia. E o apóstolo Paulo se preocupou em iniciar sua carta ao seu filho na fé, então pastor da igreja de Éfeso, discorrendo exatamente sobre a necessidade dele se manter na sã doutrina e levar a igreja a permanecer também. Desse texto inicial, para nosso estudo, queremos destacar os seguintes.
A PREOCUPAÇÃO COM FILHOS NA FÉ – v. 2
A preocupação inicial de Paulo não era social, nem financeira, nem com a saúde. Via de regra confundimos as coisas e, quando levamos alguém à fé em Jesus Cristo nos preocupamos mais com o seu dia a dia, com as coisas desta vida. A preocupação principal deve ser com a manutenção da fé verdadeira em Jesus Cristo. Há muita fé falsa e muitos que rodeiam os crentes em Cristo tentando demovê-los e desviá-los da fé.
O DEVER DO PASTOR EM ADVERTIR CONTRA OS DESVIOS DA FÉ – v. 3-7
Há sempre pessoas se desviando e trabalhando para desviar outros da fé. São pessoas que se arvoram conhecedoras, que querem ser mestres das Escrituras, que não entendem nem o que dizem nem o que afirmam (v.7), mas que ensinam doutrinas diferentes da de Jesus Cristo. São pessoas que não se importam com o que Jesus ensinou e se importam muito mais com o que eles próprios pensam saber. São pessoas que fazem belos discursos baseados em fábulas, palavras fantasiosas ou se dedicam a intermináveis genealogias (v.5).
O pastor tem o dever de ordenar (no texto este significado da palavra grega paraggello é o que se encaixa melhor) que pessoas não ensinem falsas doutrinas. É compreensível que o pastor impeça o ensinamento pois, se advertir somente, ou somente alertar aos crentes, a palavra falsa sempre poderá surtir efeito de desvio em alguns. Assim como a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus, o desvio da fé pode vir pelo ouvir ensinamentos falsos. E sempre os ensinamentos falsos produzirão debates inúteis (este é o sentido de “questões” nos vs. 4 e 6) e controvérsias.
E os crentes que desejam permanecer firmes na fé precisam dar ouvidos às advertências do pastor.
O PASTOR PRECISA TER CONVICÇÃO DO VALOR DA SÃ DOUTRINA – v. 5,8-11
Pastores sem convicção da sã doutrina se desviam e conduzem as ovelhas por caminhos tortuosos, das falsas doutrinas. Um pastor que crê no batismo por aspersão leva a igreja a batizar por aspersão; um pastor que não reconhece o valor da Ceia como um memorial do sacrifício do Senhor Jesus, leva a igreja a atribuir valores humanos à Ceia. Um pastor que não crê que a Bíblia é a Palavra de Deus, leva a igreja a descrer da Bíblia como Palavra de Deus. Um pastor que não crê na necessidade de santificação da igreja, leva a igreja a se mundanizar, a buscar igualdade com o mundo. Um pastor que crê que a igreja tem que transformar socialmente o mundo, levará a igreja a trabalhar pela transformação social do mundo. São apenas exemplos do que acontece no meio cristão e de como pastores são responsáveis por tantos desvios.
O pastor precisa ter convicção da finalidade do mandamento de Deus: o amor de um coração puro, uma boa consciência e uma fé não fingida, verdadeira. Precisa ter convicção de que o ensinamento é mais eficaz que a imposição legalista, porquanto leva o crente a um comportamento de fidelidade ao evangelho por reconhecimento da nova vida em Cristo (ver o  exemplo do próprio apóstolo Paulo nos vers 12 a 17). Mas, também, a lei é boa e precisa ser utilizada legitimamente, para com os que perseveram no pecado (v. 8-11)
Paulo delineia os que precisam ser tratados segundo a Lei: os injustos (transgressores); os obstinados em não se sujeitarem ao evangelho; os que não têm temor reverente a Deus (asebes – chamados de ímpios ou irreverentes em nossas versões); os que se dedicam ao pecado; os profanos (não santificados); os maus; os parricidas, os matricidas, os assassinos; os que praticam atos sexuais considerados impuros (pornôs); os sodomitas (arsenokoites – homens que se deitam com homens); os que colocam serem humanos sob escravidão ou fazem comércio da escravidão (andrapodistes); os mentirosos, os que acusam falsamente e os que são contrários à sã doutrina. Note-se que o apóstolo Paulo inclui os que se opõem à sã doutrina com os que cometem os mais variados e terríveis tipos de pecado.
PRECISA HAVER NO PASTOR O SENTIMENTO DA MISERICÓRDIA DE DEUS EM SUA VIDA – v. 12-17
O apóstolo Paulo vivia para obedecer a Cristo e para glorificar a Deus. O que ele sentia procurava, por todos os meios, passar para os crentes em Cristo, tanto ensinando aos pastores, quanto ensinando aos próprios crentes. Ninguém é salvo e nem vive a vida cristã por seu próprio mérito. Ninguém é bom a ponto de merecer a salvação e o fortalecimento para a vida cristã. No seu profundo sentimento da misericórdia de Deus em sua vida, ele reconhecia:
a) Era agradecido a Cristo Jesus. Dava graças à ele.
b) O seu fortalecimento vinha de Cristo Jesus. Em nossa tradução está que ele reconhecia que o Senhor Jesus o confortava, porém a palavra utillizada tem a conotação clara de fortalecimento.
c) Ele próprio era propriedade de Jesus. Ele o chama de “Senhor nosso.”
d) Agradecia porque foi Cristo quem o considerou fiel para o ministério.
e) Considerava-se o pior dos pecadores. Mas reconhecia que através da própria misericórdia para com os pecadores, o Senhor Jesus dava provas da sua longanimidade.
A VERDADE DO EVANGELHO  - v. 15 e 16
Uma palavra fiel, verdadeira (pistos), digna de toda a aceitação é a de que “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores.” Esta é a verdade do evangelho de Jesus Cristo, é a essência, é o motivo pelo qual Deus deu o seu Filho unigênito. Não há evangelho, não há sã doutrina, sem a convicção e a pregação de que todo aquele que crê em Jesus Cristo tem a vida eterna. Deixar essa verdade é fazer naufrágio na fé.
CONCLUINDO
O pastor precisa ser exemplo de fé verdadeira em Jesus Cristo, precisa pregar e ensinar a sã doutrina, com o objetivo de levar os crentes a conhecerem o evangelho verdadeiro e se manterem firmes contra os que praticam e pregam doutrinas contaminadas pelo pensamento humano, ou, até mesmo, criadas por homens.
O pastor precisa combater o bom combate. Precisa ser combativo contra o mal que rodeia e penetra na igreja. Não pode ser condescendente, não pode transigir porque ele tem um Senhor que é o dono da igreja. Precisa conservar a sua fé em Jesus Cristo e a sua consciência governada pela mente de Cristo. Não pode  pensar nem crer com a mente de homens, porém de Cristo. E a mente de Cristo nos foi revelada por ele próprio e registrada na Bíblia.

Os crentes em Cristo têm a mesma Bíblia que o pastor, tem a mente de Cristo e podem ouvir e aceitar de bom grado os ensinamentos e pregações que são realmente de acordo com a sã doutrina. Podem ajudar aos que estão se desviando da fé e devem, individualmente, permanecer firmes no evangelho de Jesus Cristo.