sábado, 12 de março de 2011

TERIA DEUS CRIADO O MAL?

Há uma pregação estranha rondando insistentemente nossos arraiais evangélicos, a de que Deus teria criado o mal.
É uma pregação que parece ter base bíblica porque os defensores da idéia  fundamentam suas pregações em um texto do livro do profeta Isaías onde lemos: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Is 45.7)
Aparentemente parece claro, definitivo e contundente e parece conter a afirmação que Deus, de fato, criou o mal. Mas, examinado com atenção por quem não deseja utilizar textos bíblicos como pretexto para fundamentar idéias pessoais, em uma exegese que observe os princípios básicos da hermenêutica, que leve em conta o real significado das frases e palavras e do contexto imediato e total das Escrituras, mostra que não é tão definitivo para definir a origem do mal no universo e, principalmente, para colocar a culpa em Deus.
Se não, vejamos.

1. No contexto geral da Bíblia encontramos que Deus é bom. A sua essência é o amor (1Jo 4.8,16) e por isso faz parte da sua natureza a benignidade, a benevolência, o altruísmo, a justiça, a verdade, a misericórdia (ver 1 Co 13.4-7). Em sua natureza essencialmente benigna não há lugar para a maldade e criar o mal seria uma maldade. Em sua natureza essencialmente verdadeira não há lugar para a mentira e o mal penetrou no mundo através da mentira, pelo pai da mentira em quem não há qualquer resquício de verdade (Gn 3.1-5; Jo 8.44). Em sua natureza essencialmente justa não há lugar para o mal que é a própria manifestação da injustiça (Salmos 11.7; 33.5). Enfim, se Deus é bom, não há qualquer possibilidade de ter criado o mal. Se o fizesse, não seria bom, não teria o amor como sua própria essência.

2. No contexto imediato não encontramos Deus se referindo à criação do mal. Deus está falando de justiça e salvação. Quando diz que criou, no sentido de alguma realização em um momento da história, no passado, diz que criou, exatamente, a justiça e a salvação. Justiça e salvação real, perfeita, porque ele é o único Deus, criador de todas as coisas. Quando fala de luz e trevas, de paz e de mal (veremos adiante de que mal está falando), está mostrando aspectos do exercício da sua justiça e, conseqüentemente, da motivação para ter criado a salvação.

3. Na análise das frases e palavras não encontramos Deus afirmando que em algum momento criou o mal, porém afirmando que cria (em um sentido permanente e contínuo) o mal. Além disso, a palavra na língua hebraica que foi traduzida por mal, não está bem traduzida nesse contexto. Note-se que estão sendo apontadas realidades opostas, antagônicas: luz e trevas, paz e mal? Certamente que a palavra ra’, nesse contexto seria melhor traduzida por um de seus outros significados, como aflição ou adversidade. Aí sim, teríamos uma tradução correta, dentro do sentido da frase: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio a aflição; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.”

Definitivamente, diante da realidade bíblica, não há como se defender a idéia de que Deus criou o mal. Longe de ser uma verdade bíblica este é um pensamento humano, que ao longo da história desenvolveu a idéia de que em Deus existe tanto o bem quanto o mal, coexistindo nele harmoniosamente em equilíbrio de forças. Mas, repetimos, em Deus não há mal algum porque Ele é perfeitamente bom.

sábado, 5 de março de 2011

JESUS REALMENTE DEFINIU PEDRO COMO SENDO O PASTOR DE SUAS OVELHAS?


João 21:15-23

O episódio entre Jesus e Pedro que aconteceu após os discípulos se alimentarem do que Cristo havia providenciado tem sido alvo de muitas especulações por parte de teólogos e intérpretes da Bíblia. Há os que dizem que naquela ocasião Jesus estava estabelecendo o apostolado de Pedro acima dos outros apóstolos; outros dizem que Jesus estava restabelecendo a comunhão de Pedro com o Mestre; outros dizem que Jesus estava repreendendo Pedro. Prefiro ver que Jesus estava demonstrando através do diálogo com Pedro, que demonstrara publicamente uma aparente falta de amor para com Ele quando o negou por três vezes, que o amor é algo essencial para que seus apóstolos e futuros pastores pudessem apascentar as ovelhas dEle. Se não, vejamos.
1. Jesus perguntou três vezes se Pedro o amava. A primeira vez perguntou inclusive se amava mais do que os outros apóstolos. Ele respondeu que sim, que Jesus sabia que ele o amava. Pelo comportamento exterior de Pedro Jesus não poderia confirmar isto porque Pedro o negara três vezes publicamente. Como agora diante de seus companheiros dizia que o amava? Era necessário que aquele que continuaria pastoreando ovelhas de Cristo tivesse bastante consciência do que dizia e que deveria sentir realmente. E, pelo que se pode perceber, na terceira resposta Pedro se conscientizou.
2. Jesus mandou três vezes que Pedro apascentasse suas ovelhas. Inclusive, na primeira vez, Jesus mandou que apascentasse os seus cordeiros (v. 15), utilizando uma palavra grega (arnion) que é o diminutivo de cordeiro, cordeirinhos. As ovelhas são animais dóceis, obedientes, necessitadas de alguém que as apascente. Cordeiros são filhotes ainda novos da ovelha. Certamente Jesus estava se referindo àqueles que criam e creriam nEle como pessoas que precisariam de muita dedicação, de muito amor, de muito cuidado. Isto fez ver claramente que amor a Cristo e apascentar as ovelhas dEle são coisas completamente interdependentes. Pedro só poderia ser pastor de ovelhas de Cristo se o amasse verdadeira e profundamente. Isto não queria dizer que somente ele apascentaria as ovelhas de Cristo, mas que era através dele, naquele momento, que Jesus queria deixar isto bem claro, inclusive para os outros apóstolos e futuros pastores que estaria, dali em diante, cuidando dos rebanhos dEle.
3. Jesus ensinou que o amor a ele deve ser manifestado em segui-lo, mesmo com a certeza de morte por causa disto. Nos versículos 18 e 19 lemos de Jesus avisando a Pedro do que aconteceria com ele. Naquele momento ainda tinha vigor e vontade própria, mas haveria o tempo em que não teria vigor e seria conduzido para onde não queria ir. Seria levado à morte. Mas encontramos, também, Jesus ordenando que o seguisse. É como se estivesse dizendo: “Você disse que me amava, mas negou ser meu discípulo por medo de morrer como eu estava para ser morto, mas você deve me seguir se me ama mesmo, mesmo sabendo que vai morrer por amor de mim, por apascentar as minhas ovelhas.” Jesus estava demonstrando, na pessoa e atitudes que Pedro deveria tomar, que o amor a Ele não pode ser somente nominal, verbal, mas tem que ser manifestado em atos mesmo que extremos de perda da vida neste mundo.
4. Jesus ensinou que o amor a ele deve ser independente do amor e da realidade que envolve a vida de outros discípulos. Sabendo que teria que seguir Jesus até a morte, Pedro olhou para João, seu companheiro de longas datas, e perguntou o que aconteceria com ele. A resposta de Jesus demonstrou que a vontade ele para com seus discípulos é soberana e que cada um deve segui-lo sem ficar olhando para realidades da vida de outro discípulo. O amor a Cristo não pode depender do amor, ou resultados do amor, de outro discípulo dEle. Cada um deve seguir a Cristo e obedecê-lo cumprindo suas tarefas pessoais, por si só.