Baseado em 1Timóteo 1
Um dos grandes males do nosso
século é uma aversão a um ensinamento sadio, a uma regra de vida sadia, baseada
nas Escrituras, a Bíblia. Não é uma aversão somente de pessoas que são de fora
do cristianismo, porém alcança fortemente o nosso meio, até mesmo os
evangélicos que deveriam caracterizar-se por uma vida cristã baseada somente no
evangelho de Jesus Cristo. Por isso, quando utilizamos a expressões doutrina,
doutrinamento e sã doutrina, há uma reação de repúdio e aversão, muitas vezes
zombeteiras ou verbalmente violentas.
Creio que para tais pessoas não
há esperança pois rejeitando a sã doutrina, rejeitam, também, os ensinamentos
bíblicos e para conhecermos e nos mantermos na sã doutrina necessitamos
exatamente do conhecimento bíblico e aceitação dos seus ensinamentos.
Pouco tempo depois de Jesus
Cristo ter estabelecido o seu evangelho no mundo, cerca de 30 anos depois de
sua morte e ressurreição, este problema já existia. Talvez sem a amplitude de
hoje, já que o mal se propaga rapidamente através dos mais variados meios de
comunicação dos quais dispomos hoje, porém já existia. E o apóstolo Paulo se
preocupou em iniciar sua carta ao seu filho na fé, então pastor da igreja de
Éfeso, discorrendo exatamente sobre a necessidade dele se manter na sã doutrina
e levar a igreja a permanecer também. Desse texto inicial, para nosso estudo,
queremos destacar os seguintes.
A PREOCUPAÇÃO COM FILHOS NA FÉ – v. 2
A preocupação inicial de Paulo
não era social, nem financeira, nem com a saúde. Via de regra confundimos as
coisas e, quando levamos alguém à fé em Jesus Cristo nos preocupamos mais com o
seu dia a dia, com as coisas desta vida. A preocupação principal deve ser com a
manutenção da fé verdadeira em Jesus Cristo. Há muita fé falsa e muitos que
rodeiam os crentes em Cristo tentando demovê-los e desviá-los da fé.
O DEVER DO PASTOR EM ADVERTIR CONTRA OS
DESVIOS DA FÉ – v. 3-7
Há sempre pessoas se desviando
e trabalhando para desviar outros da fé. São pessoas que se arvoram conhecedoras,
que querem ser mestres das Escrituras, que não entendem nem o que dizem nem o
que afirmam (v.7), mas que ensinam doutrinas diferentes da de Jesus Cristo. São
pessoas que não se importam com o que Jesus ensinou e se importam muito mais
com o que eles próprios pensam saber. São pessoas que fazem belos discursos
baseados em fábulas, palavras fantasiosas ou se dedicam a intermináveis
genealogias (v.5).
O pastor tem o dever de ordenar
(no texto este significado da palavra grega paraggello
é o que se encaixa melhor) que pessoas não ensinem falsas doutrinas. É
compreensível que o pastor impeça o ensinamento pois, se advertir somente, ou
somente alertar aos crentes, a palavra falsa sempre poderá surtir efeito de
desvio em alguns. Assim como a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus, o desvio da
fé pode vir pelo ouvir ensinamentos falsos. E sempre os ensinamentos falsos
produzirão debates inúteis (este é o sentido de “questões” nos vs. 4 e 6) e
controvérsias.
E os crentes que desejam
permanecer firmes na fé precisam dar ouvidos às advertências do pastor.
O PASTOR PRECISA TER CONVICÇÃO DO VALOR DA
SÃ DOUTRINA – v. 5,8-11
Pastores sem convicção da sã
doutrina se desviam e conduzem as ovelhas por caminhos tortuosos, das falsas
doutrinas. Um pastor que crê no batismo por aspersão leva a igreja a batizar
por aspersão; um pastor que não reconhece o valor da Ceia como um memorial do
sacrifício do Senhor Jesus, leva a igreja a atribuir valores humanos à Ceia. Um
pastor que não crê que a Bíblia é a Palavra de Deus, leva a igreja a descrer da
Bíblia como Palavra de Deus. Um pastor que não crê na necessidade de
santificação da igreja, leva a igreja a se mundanizar, a buscar igualdade com o
mundo. Um pastor que crê que a igreja tem que transformar socialmente o mundo,
levará a igreja a trabalhar pela transformação social do mundo. São apenas
exemplos do que acontece no meio cristão e de como pastores são responsáveis
por tantos desvios.
O pastor precisa ter convicção da finalidade do mandamento de Deus: o
amor de um coração puro, uma boa consciência e uma fé não fingida, verdadeira.
Precisa ter convicção de que o ensinamento é mais eficaz que a imposição
legalista, porquanto leva o crente a um comportamento de fidelidade ao
evangelho por reconhecimento da nova vida em Cristo (ver o exemplo do próprio apóstolo Paulo nos vers 12
a 17). Mas, também, a lei é boa e precisa ser utilizada legitimamente, para com
os que perseveram no pecado (v. 8-11)
Paulo delineia os que precisam ser tratados segundo a Lei:
os injustos (transgressores); os obstinados em não se sujeitarem ao evangelho;
os que não têm temor reverente a Deus (asebes
– chamados de ímpios ou irreverentes em nossas versões); os que se dedicam ao
pecado; os profanos (não santificados); os maus; os parricidas, os matricidas,
os assassinos; os que praticam atos sexuais considerados impuros (pornôs); os sodomitas
(arsenokoites – homens que se deitam
com homens); os que colocam serem humanos sob escravidão ou fazem comércio da
escravidão (andrapodistes); os
mentirosos, os que acusam falsamente e os que são contrários à sã doutrina.
Note-se que o apóstolo Paulo inclui os
que se opõem à sã doutrina com os que cometem os mais variados e terríveis
tipos de pecado.
PRECISA HAVER NO PASTOR O SENTIMENTO DA
MISERICÓRDIA DE DEUS EM SUA VIDA – v. 12-17
O apóstolo Paulo vivia para
obedecer a Cristo e para glorificar a Deus. O que ele sentia procurava, por todos
os meios, passar para os crentes em Cristo, tanto ensinando aos pastores,
quanto ensinando aos próprios crentes. Ninguém é salvo e nem vive a vida cristã
por seu próprio mérito. Ninguém é bom a ponto de merecer a salvação e o
fortalecimento para a vida cristã. No seu profundo sentimento da misericórdia
de Deus em sua vida, ele reconhecia:
a) Era agradecido a Cristo
Jesus. Dava graças à ele.
b) O seu fortalecimento vinha
de Cristo Jesus. Em nossa tradução está que ele reconhecia que o Senhor Jesus o
confortava, porém a palavra utillizada tem a conotação clara de fortalecimento.
c) Ele próprio era propriedade
de Jesus. Ele o chama de “Senhor nosso.”
d) Agradecia porque foi Cristo
quem o considerou fiel para o ministério.
e) Considerava-se o pior dos
pecadores. Mas reconhecia que através da própria misericórdia para com os
pecadores, o Senhor Jesus dava provas da sua longanimidade.
A VERDADE DO EVANGELHO - v. 15 e 16
Uma
palavra fiel, verdadeira (pistos),
digna de toda a aceitação é a de que “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os
pecadores.” Esta é a
verdade do evangelho de Jesus Cristo, é a essência, é o motivo pelo qual Deus
deu o seu Filho unigênito. Não há evangelho, não há sã doutrina, sem a
convicção e a pregação de que todo aquele que crê em Jesus Cristo tem a vida
eterna. Deixar essa verdade é fazer naufrágio na fé.
CONCLUINDO
O pastor precisa
ser exemplo de fé verdadeira em Jesus Cristo, precisa pregar e ensinar a sã
doutrina, com o objetivo de levar os crentes a conhecerem o evangelho
verdadeiro e se manterem firmes contra os que praticam e pregam doutrinas
contaminadas pelo pensamento humano, ou, até mesmo, criadas por homens.
O pastor precisa
combater o bom combate. Precisa ser combativo contra o mal que rodeia e penetra
na igreja. Não pode ser condescendente, não pode transigir porque ele tem um Senhor
que é o dono da igreja. Precisa conservar a sua fé em Jesus Cristo e a sua
consciência governada pela mente de Cristo. Não pode pensar nem crer com a mente de homens, porém
de Cristo. E a mente de Cristo nos foi revelada por ele próprio e registrada na
Bíblia.
Os crentes em
Cristo têm a mesma Bíblia que o pastor, tem a mente de Cristo e podem ouvir e
aceitar de bom grado os ensinamentos e pregações que são realmente de acordo
com a sã doutrina. Podem ajudar aos que estão se desviando da fé e devem,
individualmente, permanecer firmes no evangelho de Jesus Cristo.