Pr Dinelcir de Souza Lima
O senhor Jesus estava iniciando, através da Galiléia, um segundo programa de pregações a respeito do evangelho do reino de Deus (Lc 8.1). Não ia só, mas ia acompanhado dos seus doze apóstolos além de algumas mulheres que eram profundamente gratas pela salvação e que tinham dedicação em servi-lo. Era um grupo interessante pelas diferenças individuais, pelo fato de ter mulheres junto ao grupo como verdadeiras discípulas de Jesus e, também, porque já delineava a igreja que estava se formando a partir da cabeça que era Jesus Cristo.
Entrou em uma casa para comer, mas uma multidão se ajuntou e invadiu a casa de tal maneira que nem podiam comer (Mc 3.20). Em determinado momento trouxeram-lhe um endemoninhado que era cego e mudo, um homem terrivelmente sofredor, e Jesus o curou, expulsando o demônio e fazendo com que passasse a falar e a ver. A multidão ficou maravilhada e começou a se quebrantar para reconhecê-lo como o Messias, o Filho de Davi (Mt 12.22,23). Parece que seus discípulos ficaram separados dele por causa da multidão, porquanto ao ouvir do burburinho, saíram ao seu encontro para o resgatarem pensando que estava fora e si (Mc 3.21).
Os escribas e fariseus (Marcos se refere aos escribas e Mateus aos fariseus) aproveitaram o ensejo para tentar desmoralizar Jesus, diante da multidão que já começava a reconhecê-lo como o Messias, enviado de Deus. Fizeram, então, uma afirmação que deu a Jesus o ensejo de admoestá-los e, ao mesmo tempo, ensinar aos que o estavam ouvindo, inclusive seus discípulos: afirmou que há um tipo de pecado, uma blasfêmia, para a qual não há perdão, a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mc 3.28,29; Mt 12.32).
Há pessoas, na atualidade que utilizam esse ensino de Jesus para impingir pensamentos pessoais a outras pessoas, no que concerne, principalmente, à doutrina do Espírito Santo. Quando alguém questiona algum comportamento religioso fora dos padrões bíblicos, de alguma outra pessoa que se diz possuída ou capacitada pelo Espírito Santo, logo esta diz para aquela: “Olha! Cuidado com a blasfêmia contra o Espírito Santo!” Ou seja, um ensinamento de Jesus que deve ser respeitado e observado no seu real significado, passou a ser elemento de manipulação e opressão por algumas pessoas religiosamente autoritárias. Vamos analisar os ensinamentos de Jesus detalhadamente e vamos pensar em seu real significado.
A AFIRMAÇÃO DOS ESCRIBAS E FARISEUS - Mt 12.24; Mc 3.22,30
Ao perceberem que a multidão começava a conjecturar se Jesus não seria o Messias (a expressão “Filho de Davi” indica aquele que viria da parte de Deus, da linhagem de Davi), imediatamente começaram um trabalho sutil de tentativa de direcionamento do pensamento da multidão para uma terrível mentira com a finalidade de destruir todo o trabalho que Cristo realizara: vincularam os atos de Jesus a Satanás, ao afirmaram que Jesus expulsava demônios por Belzebu, o príncipe dos demônios, e o colocaram como se fosse dependente daquele ser maligno, já que, conforme afirmação deles, realizava os milagres sob o poder dele e afirmavam estar possesso de espírito imundo.
Era, de fato, uma afirmação terrivelmente pecaminosa, porquanto não faziam aquela afirmação por inocência ou incredulidade, mas de maldade consciente. Sabiam quem era Jesus. Sabiam, pelo menos, que era vindo da parte de Deus e isso pode ser comprovado pelas palavras de Nicodemos, um dos representantes da classe religiosa dominante dos judeus que, ao procurar a Jesus afirmou: “bem sabemos que és mestre vindo de Deus” (Jo 3.2).
A RESPOSTA E OS ENSINAMENTOS DE JESUS - Mt 12.37; Mc 3.23-30
Jesus reagiu imediatamente com uma admoestação composta de raciocínio lógico e de advertências. Ao invés de se retirar, ou de utilizar seu poder divino para destruir imediatamente aqueles homens, preferiu vencê-los, como sempre o fez, com palavras de sabedoria divina. Deixou claro à multidão que:
1. Não havia possibilidade alguma de estar a serviço de Satanás - Mt 12.25-29; Mc 3.23-27. Se estivesse Satanás estaria lutando contra si próprio e estaria destruindo seu próprio principado. Era realidade que ele expulsara demônios. Como poderia, então, Satanás expulsar Satanás? A verdade era que Jesus expulsava os demônios pelo Espírito de Deus e que o reino de Deus havia, de fato, chegado até os judeus. Expulsava porque tinha poder para entrar nos corações dominados por Satanás anulando-lhe o poder e, então, limpar os corações (Mt 12.29; Mc 3.27).
2. Não existe qualquer tipo de cooperação entre as trevas e a luz - Mt 12.30. Não existe meio termo, não há possibilidade de se ficar “em cima do muro” com respeito a Jesus Cristo. Quem não está com ele está contra ele e, quem não trabalha com ele, trabalha contra ele. Sendo ele a luz, não poderia compactuar com as trevas e nem as trevas com ele.
3. Não há perdão para quem blasfema contra o Espírito Santo - Mt 12.31,32; Mc 3.29. Para qualquer tipo de pecado ou blasfêmia há perdão; até mesmo a palavra dirigida contra a pessoa humana de Jesus, mas a blasfêmia, a fala contra o Espírito Santo, nunca será perdoada. Quem o fizer já está condenado.
Essa é a realidade declarada por Jesus. A questão, então, é: O que seria a blasfêmia contra o Espírito Santo? Seria alguém dizer que tem alguma visão, ou profecia, ou que realizou alguma obra sob o poder do Espírito Santo e a pessoa duvidar disso? Certamente que não. Note-se que quem estava envolvido ali era o próprio Senhor Jesus. Não um discípulo seu, mas o próprio Filho de Deus. A cena não poderá se repetir na história porque Jesus já subiu aos céus e de lá só voltará para o juízo final. Além disso, o que estava envolvido ali era uma blasfêmia consciente da parte de pessoas que sabiam que Jesus era vindo de Deus e que, portanto, realizava milagres pelo Espírito Santo. A blasfêmia contra o Espírito Santo é, portanto, a declaração contrária à Ele, da parte de quem tem certeza de a obra é divina e que afirma ser obra maligna. Isto quer dizer que o crente em Cristo não pode blasfemar contra o Espírito Santo, porquanto nunca dirá, conscientemente, que uma obra do Espírito é de origem maligna; nunca dirá que o que Jesus realiza através do Espírito Santo, é de obra maligna; nunca dirá que Jesus tem parte com Satanás; e nunca dirá que Jesus age pelo poder do maligno.
Por outro lado, fazer isso é tão maligno, tão digno do próprio Satanás que o que pratica a blasfêmia contra o Espírito Santo já tem a maldade em si próprio (Mt 12.33-35) e a sua condenação é uma realidade que está inerente em seu ser (Mt 12.36,37). Por isso não há perdão, tanto quanto não há para Satanás que, sabendo quem é Jesus Cristo o rejeita e luta contra ele.
4. O que se fala é resultado do que há no interior do homem que á de ser responsabilizado pelas suas próprias atitudes interiores v. 34-37. O que os fariseus e escribas falaram não foi resultado do acaso, ou de uma ignorância a respeito de Jesus, mas a frutificação do mal que estava em seus corações. Por isso seriam responsabilizados no dia do juízo final e teriam que dar contas ao próprio Senhor Jesus no dia do juízo final e, certamente, seriam condenados pelas palavras proferidas a partir dos seus corações malignos.
CONCLUSÃO
Há pessoas que rejeitam conscientemente a Jesus Cristo, mesmo sabendo da sua realidade divina. Podem existir mesmo no meio do povo de Deus e podem ocupar posições religiosas respeitáveis aos olhos humanos. Mas seus corações poderão ser reconhecidos por suas palavras que sempre colocarão Jesus Cristo em segundo plano, que sempre procurarão menosprezar o que Cristo fez e faz pelo pecador e contra as potestades malignas. Suas palavras estarão sempre fora do contexto das Escrituras, torcendo-as e procurando afastar pessoas do reconhecimento de que Jesus Cristo é o Filho de Deus que veio ao mundo para conceder a salvação a todos quantos crerem nele.
Tais pessoas, por melhor que seja a sua aparência religiosa, já têm a condenação garantida por Jesus Cristo e não devem ser seguidas, sob pena de seus seguidores serem levados, também, à perdição eterna.
Não têm salvação porque ultrapassaram limites de malignidade e se tornaram tão maus quanto o próprio Satanás que luta contra o Senhor Jesus Cristo e contra a sua obra de salvação da humanidade. Por lutarem contra Jesus Cristo, sabendo quem ele é e do poder divino que possui, blasfemam contra o Espírito Santo que é o próprio Espírito de Cristo e, na sua blasfêmia, irão de mal à pior, sem possibilidade de perdão por causa da dureza de seus corações.
Aos que crêem em Jesus Cristo como Salvador e o têm como Senhor, nunca blasfemarão contra o Espírito, porque nunca se lançarão conscientemente contra o Senhor Jesus, mas estarão ao seu dispor para servi-lo na propagação do reino de Deus.