Pr. Dinelcir de Souza
Lima
Sempre encontramos na Bíblia uma estreita relação
entre famílias e povo de Deus e é relativamente fácil compreendermos a razão
disso: Deus instituiu a família como primeira célula da sociedade humana; a
igreja é composta de seres humanos (regenerados, porém humanos) logo a igreja é
composta, em sua grande parte, de famílias.
Neste estudo não vamos nos prender a exemplos de
laços familiares com a formação do povo de Deus no Antigo Testamento, porquanto
alguém poderia argumentar que naquele tempo ainda não existia a igreja de
Cristo. Por isso vamos nos deter em exemplos e ensinamentos contidos somente no
Novo Testamento.
JESUS CRISTO PRESTIGIOU A
FAMÍLIA
Jesus é o Senhor da igreja. Ele prestigiou a família
durante o seu ministério no mundo através de atos e ensinamentos que são
irrefutáveis. Enumeramos alguns.
1. Jesus nasceu no seio de uma família. Às vezes fico a pensar em
como Deus poderia ter enviado Jesus fazendo com que ele nascesse de uma jovem solteira,
já que não nasceu através da fecundação natural entre a semente do homem e a da
mulher. Não houve a participação de José na geração de Jesus em Maria. Ele foi
gerado pelo Espírito Santo. No entanto Deus o colocou em uma família e ele era
perfeitamente identificado com a sua família (Mr 3.32; Lc 4.22; Jo 1.45; 6.42).
Se Jesus nascesse de uma jovem solteira nunca seria benquisto na sociedade
judia. Seria olhado como alguém que teria nascido em situação irregular,
perante Deus e a sociedade. No entanto, Deus valorizou a família ao fazer Jesus
nascer e crescer no seio de uma família. Valorizou o que ele próprio instituiu.
Se Jesus nasceu e cresceu dentro de uma família, fica difícil compreender uma
pessoa que se diga cristã, que seja membro de uma igreja de Cristo, que não
valorize essa instituição divina, primordial para o crescimento espiritual e
social, e é fácil compreender que precisamos valorizá-la, envidando todos os
esforços para preservá-la.
2. Jesus praticou atos que valorizaram as famílias. Os quatro
Evangelhos registram seus atos, sendo que o primeiro registro que temos é o de
quando ficou em Jerusalém, ainda menino, discutindo no templo com os doutores
da Lei. Convocado pelos pais para retornar para casa com eles, após argumentar
que era necessário cuidar dos negócios do Pai celestial, poderia ter dito que
continuaria ali. Porém, deixou de lado o que estava fazendo e os obedeceu,
seguindo-os de volta (Lc 2.40-51). Outros exemplos são a sua participação nas
festividades de um casamento, onde realizou o seu primeiro milagre (Jo 2.1-12);
a frequência à casa de uma família que era sua amiga, a de Lázaro (Lc 10.38; Jo
11.5); a frequência à casa de Pedro, em uma das ocasiões curando a sogra dele (Lc
4.38); o da ressurreição do único filho da viúva de Naim, restituindo àquela
mulher o bem mais precioso que possuía; e, estando à morte na cruz, se
preocupou em deixar sua mãe com um filho que cuidasse dela, passando sua
filiação a João (Jo 19.26,27).
3. Jesus deixou ensinamentos preciosos a respeito de laços familiares.
No seu discurso que ficou conhecido como “O Sermão da Montanha”, proferido logo
no início do seu ministério, Jesus deixou ensinamentos claros a respeito da
convivência dos cônjuges (Mt 5.31,32); em outra ocasião, criticou os fariseus
porque não honravam a seus pais através do sustento, encontrando desculpas
religiosas (Mr 7.9-13); e proferiu, novamente, ensinamentos a respeito do
relacionamento conjugal (Mt 19.3-12).
É fácil assimilarmos a verdade
de que se aquele que é a cabeça da igreja prestigiou tanto a família, é lógico
que seu corpo, a igreja, também prestigie.
A IGREJA NASCEU E
CRESCEU EM AMBIENTES FAMILIARES
Os Evangelhos e o livro de Atos
dos Apóstolos registram alguns acontecimentos que mostram como a igreja de
Cristo nasceu e cresceu em ambientes familiares, dos quais destaco alguns.
1. Lucas 22.7-14 (e textos sinóticos), onde está registrada a
instituição da Ceia pelo Senhor Jesus Cristo, como um memorial do Novo
Testamento , em um cenáculo (que era o terraço superior de uma casa) emprestado
por um chefe de família.
2. Atos 1.13,14. Mostra os discípulos de Jesus, logo após a sua
subida aos céus, reunidos também em um cenáculo, onde perseveravam congregados,
unânimes, em oração. Provavelmente tenha sido naquele lugar que aconteceu a
manifestação do Espírito Santo, registrada em Atos 2.1-4, anunciada por Jesus
como sendo o batismo do Espírito Santo para a sua igreja.
3. Atos 16.13-15. Narra a conversão, na cidade de Filipos, de uma
mulher com toda a sua casa e o convite insistente em hospedar o apóstolo Paulo
e sua comitiva missionária.
4. Atos 16.23-34. Ainda na cidade de Filipos, preso, o apóstolo
Paulo anuncia o evangelho ao carcereiro, que se converte com toda a sua família
e recebe o apóstolo em sua casa, onda a família toda se alegra com a presença
do servo de Cristo.
5. Atos 18.1-8. O texto registra o apóstolo Paulo conhecendo uma
família temente a Jesus, em Corinto, e indo morar em seu lar. Encontramos,
também, o registro do apóstolo pregando na casa de um homem que morava ao lado
de uma sinagoga e da conversão do chefe da sinagoga e de toda a sua família.
6. Atos 20.6-12 registra a estada do apóstolo Paulo em Filipos,
reunido com a igreja daquela cidade, em uma casa de família, pregando e
participando de uma comemoração da Ceia.
E poderíamos citar tantos outros textos, como, por
exemplo, o da conversão do centurião Cornélio e toda a sua família ou, ainda, os
que registram a ajuda do casal Áquila e Priscila no ministério do apóstolo
Paulo. Sem dúvida alguma o surgimento e o crescimento da igreja de Cristo estão
intimamente ligados a laços e situações familiares.
OS APÓSTOLOS DE JESUS, FUNDAMENTOS DA IGREJA, DEIXARAM ENSINAMENTOS
SOBRE A FAMÍLIA
Pelo menos dois desses apóstolos deixaram
ensinamentos preciosos sobre comportamentos familiares. Os do apóstolo Paulo estão
registrados em Efésios 5.22-33; 6.1-4 e Colossenses 3.18-21; e os do apóstolo
Pedro em 1Pedro 3.1-7. Neles vamos encontrar ensinamentos preciosos a respeito
do relacionamento dos maridos com as esposas, das esposas com os maridos, dos
pais com os filhos e dos filhos com os pais. Ensinamentos de grande importância
para a boa convivência familiar e que envolvem, também, a vida cristã.
CONCLUINDO
Estudando o Novo Testamento percebemos que não há
como separar a importância da família e da igreja de Cristo. Há uma interação
constante e natural. A igreja começou em lares convertidos ao Senhor Jesus e
continuou crescendo sob os cuidados de pessoas com suas famílias e com a
conversão de famílias inteiras através da pregação do evangelho de Jesus
Cristo. Essa interação constante e natural fez com que os apóstolos deixassem
ensinamentos que, se observados, trazem o equilíbrio da família e,
consequentemente, da igreja. Famílias equilibradas, tementes a Deus, obedientes
aos princípios divinos, formam igrejas também equilibradas e tementes a Deus.
Cabe a nós, servos de Cristo, sermos obedientes aos ensinamentos de Cristo e
seus apóstolos e perseverarmos nesses ensinamentos, a fim de que as igrejas de
Cristo cresçam fortes e atuantes na sociedade que vivemos.