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Coríntios 12:1-11
O
apóstolo Paulo já havia discorrido a respeito de problemas concernentes aos
sentimentos e ao corpo, a atitudes manifestadas em atos e realizações físicas.
Agora precisava falar a respeito de graves problemas no âmbito espiritual e ele
inicia dizendo literalmente o seguinte: “A respeito do que é espiritual...”, ou
“A respeito da espiritualidade...”; ou “A respeito do que concerne ao
espírito...” A expressão “dons” é enxerto de tradutores e não existe na sua
frase inicial. Ele estava preocupado com comportamentos e pensamentos que
giravam em torno do que é imaterial, do que envolve tanto o espírito do ser
humano, quanto o Espírito de Deus. E naquela igreja havia muita confusão a
respeito, pelo fato de a espiritualidade deles ter, ainda, como padrão, a sua
antiga religiosidade gentílica (v. 2).
Agora, convertidos, novas criaturas em Cristo Jesus, precisavam
conhecer o que é espiritual em conformidade com a realidade do Espírito Santo,
sua natureza, propósitos e atos vindos realmente de Deus. E nós, também
influenciados por ensinamentos e comportamentos humanos, oriundos de
religiosidades pagãs ou de incredulidades quanto à Palavra de Deus escrita,
precisamos conhecer a respeito do Espírito Santo e suas manifestações na
igreja. Não podemos ser ignorantes como os da igreja de Corinto eram.
I. O
ESPÍRITO SANTO LEVA À GLORIFICAÇÃO DE JESUS – v. 3
O conhecimento principal para a compreensão das manifestações do
Espírito Santo é o de que Ele sempre leva o ser humano à glorificação da pessoa
do Senhor Jesus (ver também João 16:14). Nunca leva à glorificação da própria
pessoa, nem do próprio Espírito Santo, porém à pessoa do Salvador, do Senhor,
do Filho de Deus.
Anátema
significa algo ou alguém que é dedicado à destruição, ao sofrimento. Daí se
dizer, também, que anátema significa maldito. Mesmo que seja em sentimento
manifestado em palavras, dedicar algo ou alguém à destruição é manifestar
desprezo. Então, dizer Jesus é anátema é manifestar desprezo por ele. Ao
contrário, referir-se a Jesus como Senhor, é glorificá-lo, é exaltá-lo como Rei
dos reis, Senhor dos senhores.
Para
não sermos guiados por falsos ensinamentos precisamos, portanto, antes de tudo,
observar se quem nos tenta ensinar, ou nos incitar, ou nos conduzir, despreza
ou exalta a pessoa do Senhor Jesus. Se exaltar-se a si próprio, ou se exaltar a
pessoa do Espírito Santo acima de Jesus, é falso profeta, falso mestre, falso
pastor. Quanto a ensinamento, é falso, enganoso.
II. A
DIVERSIDADE DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO E A UNIDADE DE DEUS, JESUS CRISTO E
ESPÍRITO SANTO – v. 4-11
Pelo
contexto da carta percebemos que havia irmãos na igreja de Corinto que se
exercitavam na prática de algumas manifestações espirituais apenas e, talvez,
as que mais lhes eram convenientes para a aquisição e manutenção de posições de
destaque na igreja. O destaque ia para o fenômeno da glossolalia (produção de
ruídos estranhos, ininteligíveis com a boca) e para a adivinhação (que confundiam
com a profecia). Mas o apóstolo Paulo, antes de discorrer profundamente a
respeito desses fenômenos, se preocupa em ensinar que existem diversos outros
dons do Espírito Santo, que visam a prestação de serviços ao Senhor Jesus e que
todos são realizações dedicadas a Deus. Ou seja, os dons são diversos, provém
do Espírito Santo conforme a vontade dEle porque distribui a cada um como quer
(v. 11) e nunca são para o indivíduo, para seu benefício próprio (nem mesmo
para a própria edificação) nem a distribuição e recebimento de dons é conforme
a vontade de quem os busca.
Para
compreendermos melhor a respeito dos dons do Espírito Santo precisamos analisar
o seguinte:
1. O que é dom do Espírito Santo
A
expressão grega utilizada Pelo apóstolo Paulo e traduzida por “dom” é “karismáton”, que tem como principal
significado “favores não merecidos, porém gratuitamente concedidos.”
Compreendemos, assim, que o apóstolo Paulo não está falando nada a respeito de
recebimento do Espírito Santo, mas de capacitação
concedida pelo Espírito Santo para o serviço cristão. A expressão é
traduzida por dom porque não temos na língua portuguesa uma expressão que, por
si só, consiga dar o mesmo sentido que a palavra grega. E, também, porque são
capacitações que vêm aos crentes em Cristo como dádivas divinas, sem que o
crente tenha que merecê-las.
2. Os dons são individuais. Os dons são manifestados e o apóstolo
Paulo afirmou que a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for
útil e, compreendemos, ao serviço cristão. Observe-se com atenção que
manifestação é ação e que não há, portanto, dom sem manifestação. Isto seria
inútil.
3. Quais capacitações foram referidas pelo apóstolo Paulo. Os dons do Espírito Santo ensinados à igreja
de Corinto foram os seguintes:
a) Palavra de sabedoria – Capacidade de se expressar com sabedoria, com prudência, com
inteligência.
b) Palavra de conhecimento – Capacidade de transmitir o
conhecimento verdadeiro, de ensinar o que é correto, de doutrinar.
c) Fé – convicção da verdade (pistis). Lembramos que o apóstolo Paulo
está falando de manifestação de dons. Está, portanto, se referindo à fé
verdadeira, com atos e atitudes que manifestam a convicção da verdade.
Lembremo-nos de que os atos, as realizações (ergon) de fé são as manifestações
de que a fé é real, verdadeiramente existente (Tiago 2:18).
d) Os meios de cura – A palavra utilizada é iama,
que significa exatamente isso: “um meio de cura, remédio, medicamento”. O
apóstolo Paulo não estava se referindo a curas milagrosas, porém aos meios de cura.
Se quisesse se referir a cura teria utilizado a palavra iaomai, que é o verbo curar,
sarar. Diferentemente do que muitos pensam e defendem hoje, o apóstolo
Paulo estava dizendo que, na igreja, o Espírito Santo concedia a crentes meios,
recursos, medicamentos, para curar.
e) Realizações de poder – A palavra que é traduzida por milagres é dunamis que significa literalmente poder, força, capacidade. A palavra que
foi traduzida por operações é energema,
que significa aquilo que foi realizado, resultado de uma operação. Por isso
traduzimos por “realizações de poder”. Não é possibilidade de realizações,
porém a realização concluída e de algo poderoso. Não significa necessariamente
que sejam milagres, pois pode ser qualquer realização poderosa para o Senhor Jesus
Cristo. Por exemplo, a realização, a conclusão da operação da evangelização
levada a efeito pelo apóstolo Pedro no dia de Pentecostes, quando se
converteram e foram agregadas à igreja quase três mil almas, foi uma concessão,
uma dádiva do Espírito Santo. Isto significa que poderosas campanhas
evangelísticas realizadas pelas igrejas e conduzidas por alguns, é uma dádiva
do Espírito Santo.
f) Profecia – Confundido por muitos com adivinhações, inclusive de coisas
particulares na vida de pessoas, significa, no entanto, conforme Strong, James:
Léxico Hebraico, Aramaico E Grego De Strong. Sociedade Bíblica do
Brasil, 2002; 2005, “discurso que emana da inspiração divina e que
declara os propósitos de Deus, seja pela reprovação ou admoestação do iníquo,
ou para o conforto do aflito, ou para revelar coisas escondidas; esp. pelo
prenunciar do eventos futuros na predição de eventos relacionados com o
reino de Cristo e seu iminente triunfo, junto com as consolações e
admoestações que pertence a ela...” É, portanto, o dom de anunciar, pregar, a
Palavra de Deus. Uma pregação de acordo com a Palavra de Deus, com as
Escrituras Sagradas, a proclamação do evangelho de Jesus Cristo como consolação
e admoestação do juízo de Deus sobre a humanidade, é manifestação do dom de profecia.
g) Discernimento de espíritos
– seja no sentido do ânimo ou essência do que move o
ser humano (falso ou verdadeiro), seja no sentido de espiritos malignos que se
disfarçam no seio da igreja, através de pessoas e seus atos.
h) Línguas de outros povos,
raças, tribos ou nações – Ao contrário do que consta da maioria das nossas
traduções, o apóstolo Paulo não se referiu nenhuma vez a linguas estranhas ou a
variedades de línguas. Isso é interpretação pessoal de tradudores que mudaram o
sentido, talvez desejando facilitar a compreensão e, ao contrário, dando origem
à grande confusão doutrinária e comportamental que existe hoje no meio
evangélico difundido pelos doutrinadores do pentecostalismo. No grego, no
versículo 10, encontramos as expressões genos,
que significa família, raça, tribo,
nação; e glossa que tanto pode
significar língua no sentido do órgão da
fala, quanto língua, no sentido de idioma.
A referência do apóstolo Paulo é específica à manifestação do dom de
línguas de outras nações. Pessoas que conseguem aprender com facilidade línguas
de outras nações e as utilizam no que é últil para o reino de Deus, são
capacitadas pelo Espírito Santo.
i. Interpretação de línguas
estrangeiras – Conforme significado da palavra hermenéia, do que foi dito de alguma
maneira obscurecida a outras pessoas. É o dom de interpretar, esclarecer e
anunciar de maneira perfeitamente compreensível. Não é um dom de interpretação
de línguas estranhas, isso não existe na Bíbli, mas o dom de interpretação de línguas
de outras nações.
Concluindo
a) Dons são dádivas não merecidas, portanto
não podem ser conquistados através de práticas religiosas; b) Dons são
invisíveis, o que é visível são as manifestações dos dons; c) Dons de profecia,
de cura, de línguas e de interpretação não são o que os pentecostais ensinam,
porém o que está escrito no texto e foi explicado; os dons são uma realidade
para o que for útil na igreja de Cristo e não para o benefício de quem os
recebe.